04/08/11

É preciso saber rir (Carlos Cardoso)



É preciso saber rir.

A boca deve estar levemente suspensa
como no terceiro minuto do amor.
entreabertos e agitados
os lábios deixam espreitar os dentes atentos.

Depois,
rir deve ser o prenúncio da tempestade.

Deixa trepar o isófago o estampido do estômago.
O coração estremece,
os pulmões hirtam-se como águia de bico em flecha
e os braços arrancam do abdómen
o primeiro estrondo da tempestade.

Finalmente,
a cabeça separa-se do corpo
e irrompe por aí
desfeita em gargalhada.

Carlos Cardoso (1985) Directo ao Assunto. Maputo: Cadernos Tempo.

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